O Soldado da Misarela

  • Compositor: Anne Victorino d'Almeida
  • Opus: 48
  • Ano de Composição: 2018
  • Categoria:
  • Duração: 10:00
  • Instrumentação: Banda

Notas de Programa

"Tive o privilégio de conhecer o arqueólogo subaquático Alexandre Monteiro que partilhou comigo uma das experiências mais marcantes da sua profissão que, aos meus ouvidos habituados a outros temas, se entranhou de tal maneira na minha imaginação como se estivesse estado presente. O Alexandre tinha mergulhado há pouco tempo no rio Rabagão, imagine-se, trazendo à superfície moedas em cobre e prata e projéteis em chumbo de espingardas francesas.

Esta peça retrata uma ficção que poderia ter existido; porque não? Aliás, certamente existiu. É a história de um soldado que perdeu a vida na Ponte da Misarela em meados de maio de 1809. Tal como a maioria dos soldados, era jovem, estaria possivelmente apaixonado, com todos os sonhos por concretizar. Algures, uma donzela com longas e bonitas tranças, bordando num lençol o nome do seu amado, ansiaria pelo seu regresso para lhe dar a mão e, longe dos olhares e dos mexericos, abraçá-lo-ia e trocariam promessas de amor. Mas foi sob o comando do Maréchal Soult que ele não resistiu a um dos maiores calvários das tropas francesas nas Invasões Napoleónicas.

Nesse dia fatídico, os soldados exaustos viram-se encurralados numa ponte de largura exígua, a famosa Ponte da Misarela, situada no Gerês, estendida a cerca de 30 metros e dobrada sobre o fecho de um único arco de 12 metros de altura, tão estreita que apenas permitia a passagem em fila indiana. Apanhados inesperadamente pelos tiros do inimigo, as tropas imobilizadas, sem poderem manobrar para se proteger, sentiram-se completamente indefesas e renderam-se ao pânico. Muitos homens tentavam avançar a todo o custo empurrando os soldados da frente, atropelando-se uns aos outros para chegarem às imediações da ponte; desesperados, aterrorizados e à procura de escapar desse cenário, atiravam fora as suas armas e equipamentos; os cavalos já sem força ou desferrados eram abatidos ou atirados pelas ravinas de modo a que se desembaraçasse o caminho. Muitos homens foram atirados ao abismo pelo aperto e pela confusão e aos animais que se recusavam a passar sobre a estreita passagem eram cortados os tendões acima dos boletos ou nos curvilhões. Perdeu-se a vida de um rapaz. Perdeu-se uma história de amor, um destino, uma caminhada igual a tantas outras mas que todos desejamos viver. Perderam-se muitas vidas.

A história deste soldado repete-se infelizmente. Todos os dias. Sejam soldados, sejam civis. Sejam crianças, mulheres ou homens. Como se a nossa vida e os nossos sonhos valessem menos do que os interesses de quem governa."

Aquisição

https://editions-ava.com/pt/o-soldado-da-misarela