Esta peça foi inspirada nas pinturas de Miró que podemos ver acima. Cada um deles corresponde a um movimento da peça.

No primeiro andamento da peça 'head, bird', o clarinete baixo liderará a colisão entre o preto e as outras cores. Esta, orquestrada pela eletrónica trará uma nova camada de cor e ruído à orquestração. Motivos velozes tocados pela orquestra trarão à memória o pássaro do título.

O segundo andamento é focado na cor azul,'blue', que se tornará a nota pedal dó sustenido orquestrada pela eletrónica. A linha negra que podemos ver no quadro de Miró será feita pelo clarinete baixo recorrendo a multifónicos. A cadenza feita pelo solista fará uma ponte para o último movimento como resumirá o material musical da peça.

Em 1927 o crítico francês Maurice Raynal registou na sua Anthologie de la peinture en France de 1906 à nos jours um comentário de Joan Miró em que o artista afirmava sem rodeios querer "assassinar a pintura".

Ironicamente, Miró usou as práticas da pintura para articular a sua crítica. Numa série de obras sobre tela de 1927, o artista catalão forçou os limites tradicionais do meio - Os atos de lacerar, queimar, perfurar e manipular os seus suportes, sublinham a fisicalidade violenta da sua abordagem e a sua grande sensibilidade às propriedades físicas dos seus materiais.

No ano de 1973, Miró, em colaboração com o artista Joseph Royo, fez uma série de pinturas intituladas 'Toiles brûlées' como resposta a uma série de novas práticas como a arte processual, a performance, a land art e a instalação que estavam em ascensão com o alto modernismo.

'burnt canvas' é uma representação sonora do fogo e da raiva de Miró enquanto "assassinava" as suas pinturas. A colaboração que esteve na origem destes quadros pode também ser ouvida no último andamento, onde o clarinete baixo tem como sombra a marimba. Durante este diálogo, a orquestra criará uma série de delays como fogo espalhando-se sobre a tela. A eletrónica irá criar uma saturação até ao final da peça.

No final da peça, ouviremos um eco dos pássaros do início, mas desta vez o solista gritará por cima destes recorrendo aos multifónicos como um último ato de desespero.

Miró "assassinou" as suas obras ao tentar encontrar uma nova abordagem para a pintura,'blood on my fingers' é uma abordagem sónica para este "assassinato", onde a fronteira entre o pintor e a sua arte se torna incerta.