Memórias do Lethes é uma obra para coro e ensemble de metais, escrita a convite da Direção Pedagógica da Escola de Música do Orfeão de Leiria. Surge como resposta ao desafio lançado pelo programador do Festival Música em Leiria, Dr. Miguel Sobral Cid, que define como linhas orientadoras da programação de 2013 os binómios "tradição e a contemporaneidade". As possibilidades de oposição e interacção são múltiplas e permitem ao compositor imaginar muitos pontos de partida, identidades e ambientes para a sua obra, tendo como fio condutor a utilização de melodias tradicionais portuguesas.

            Não querendo enveredar por um caminho que conduzisse a uma nova leitura de uma determinada canção tradicional, procurei representar, em Memórias do Lethes, a ligação dos meios rural e urbano através de interacções de melodias do imaginário colectivo da região a que a minha família pertence, com ideias e linguagens que absorvi ao longo do meu percurso.

            Lethes é palavra que conheço desde a infância, associada ao rio do esquecimento, que na mitologia grega designava um rio cujas águas tinham o poder de apagar da memória as lembranças das agruras da vida. Memórias do Lethes resgata a recordação dos verões quentes da infância, em que a minha avó cantava melodias que ainda hoje ecoam na minha memória.