Esta obra, composta entre janeiro e março de 2013, resultou de uma encomenda da Câmara Municipal de Sever do Vouga no âmbito do projeto "Ressurgir", com o objetivo de ser apresentada pelas duas bandas do concelho (Filarmónica Severense e Banda União Musical Pessegueirense). Estreada em 30 de março de 2013, no Centro das Artes e dos Espetáculo de Sever do Vouga, sob a direção do compositor, com um efetivo de 140 músicos.
Statio I - Iesus Condemnatur ad Mortem
Perante o Sinédrio, Jesus é condenado à morte.
A magestosidade do início, descrevendo a importância do Sinédrio enquanto órgão de poder judeu, dá lugar a um burburinho discreto, próprio de quem não pretende ser descoberto, que retrata a falta de coragem daqueles que acompanharam Cristo nos últimos momentos da Sua vida. Surge então, poderoso, um motivo de 3 notas (Sib, Réb e Lá) que é aqui - e sempre que surge ao longo da obra - utilizado como sentença de morte. Ainda durante esta estação, diversos sons de percussão retratam a flagelação. Este andamento termina com o proferir da sentença, através do motivo entretanto apresentado.
Statio II - Iesus Oneratur Ligno Crucis
Jesus carrega a Sua cruz.
O carácter do andamento é um Andante doloroso. O baixo ostinato, nas tubas e nos tímpanos, representa os passos de Cristo nesta caminhada. Todas as melodias, fragmentos, motivos e ideias musicais apresentadas durante este movimento são de lamentação e sofrimento.
Satio III - Iesus Procumbit Primum Sub Onore Crucis
Jesus cai pela primeira vez.
Todo o desenrolar do andamento, violento e estrepitoso, desemboca na caída de Cristo pela primeira vez, sucumbindo ao peso da cruz. São audíveis os sons do chicote, forçando-O a levantar-se. A representação sonora da queda é literal e fecha o andamento.
Statio IV - Iesus Fit Perdolenti Matri Obvius
Jesus encontra a Sua mãe.
Neste andamento é apresentado pela primeira vez o "tema feminino". Este tema, terno e triste, é transversal a todas as presenças do feminino ao longo da obra.
Statio V - Iesus in Biulanda Cruce a Cyrenaeo Adiuvator
Simão de Cirene carrega a cruz.
Os ritmos irregulares marcam o andar irregular de Cristo, condicionado pelo esforço de carregar a cruz. O andamento termina com o motivo da condenação à morte, lembrando que a mesma é inexorável e que será cumprida, apesar deste auxílio piedoso.
Statio VI - Iesus Veronicae Sudarium Abstergitur
Verónica enxuga o rosto de Jesus.
Este andamento tem como tema base o tema já apresentado no encontro entre Jesus e a sua Mãe. No entanto, e considerando que o momento mais pungente terá sido mesmo esse encontro entre Maria e Cristo, aqui não se chega a desenvolver, sendo apenas apresentada a sua ideia inicial.
Statio VII - Iesus Procumbit Iterum sub Onore Crucis
Jesus cai pela segunda vez.
Este andamento é uma reexposição simples e sem alterações do andamento em que Jesus cai pela primeira vez.
Statio VIII - Iesus plorantes mulieres alloquitur
Jesus consola as mulheres de Jerusalém.
O tema feminino volta a ser utilizado. Desta vez surge um contraponto, cantado em uníssono por vozes femininas, referindo a tristeza e a ternura sentida em relação ao condenado. Aparece, pontualmente, um motivo fúnebre nos trompetes anunciando a proximidade da morte.
Statio IX - Iesus Procumbit Tertium sub Onore Crucis
Jesus cai pela terceira vez.
Nova reexposição da primeira queda.
Statio X - Iesus Vestibus Spoliatur
Jesus é despojado das Suas vestes, que são divididas pelos soldados romanos.
O início do andamento, com a percussão e os trompetes, remete para um ambiente militar; por outro lado, o apontamento das flautas, oboés e xilofone as vestes a serem rasgadas. O solo de oboé, seguido pelo do clarinete, representam a túnica, de qualidade, a ser deitada às sortes pelos soldados.
Statio XI - Iesus Clavis Affigitur Cruci
Jesus é pregado na Cruz.
A violência do andamento, com acentuações fortes na percussão, são uma representação sonora dos pregos a serem colocados. O carácter sinistro e tenebroso do quadro reflete-se na harmonia dissonante e na ausência de uma tonalidade estabilizada.
Statio XII - Iesus Moritur in Cruce
Jesus morre na Cruz.
Mantendo o carácter violento da estação anterior, a morte de Jesus é marcada por uma série de diálogos (com os dois ladrões; com os soldados que lhe dão a beber vinagre com fel) entre as várias secções da banda. Sempre presente, o motivo da condenação (Sib, Réb e Lá) está presente ao longo de todo o andamento, aparecendo no entanto com ritmos diferentes. A percussão simula a trovoada e as trevas que, segundo diversos relatos, se abateram sobre a Terra na morte de Cristo. O andamento termina com o motivo da condenação, seguido das palavras proferidas por Cristo "Eli, Eli Lama Sabachthani" (Meu Deus, Meu Deus. Porque Me abandonaste?!).
Statio XIII - Iesus Deponitur de Cruce
Jesus, deposto da Cruz, nos braços da Sua mãe.
Uma monodia simples, terna e lúgubre, nos Clarinetes Baixos, retrata a deposição de Cristo na Cruz. A harmonia que entretanto vai surgindo retrata a congregação dos vários elementos que se crê haver participado na deposição. Termina com uma cadência Plagal (Cadência "Ámen"), marcando o despertar da congregação cristã.
Statio XIV - Iesus Sepulcro Conditur
Jesus é sepultado.
Este andamento é marcado por um ritmo de marcha fúnebre, na percussão e nos trompetes. Sobre este, fragmentos da melodia do quadro anterior, recordando a tristeza de Maria, aparecem pontualmente. A harmonia utilizada é a que serve de base também ao tema feminino, referência ao facto de o tratamento do corpo e a subsequente sepultura ter sido tarefa, sobretudo, de mulheres.
Et Resurrexit Tertie Die Secundum Scripturas
E ressuscitou ao terceiro dia conforme as escrituras.
Este andamento, de carácter pomposo, majestoso, glorioso e, sobretudo, festivo, descreve a ressurreição de Cristo e o advento de uma nova era. Procura transmitir também, nos tempos atuais, um sentimento de esperança num futuro melhor, onde as dificuldades do dia a dia são degraus de uma escada que nos conduzem à felicidade e à realização de todos os nossos anseios e projetos.
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