Diz-nos a antropologia, que os primeiros homens de Cro-Magnon habitavam em cavernas, já usavam alguns utensílios básicos, como anzóis e agulhas. Cozinhavam, faziam roupas, comida e enterravam os mortos. Há quem diga que faziam arte, pintando as paredes das cavernas. Foram provavelmente os primeiros a questionar. Imagino que, questionando, tenham inventado a fé, que cozinharam com o medo para inventar a coragem. Fiz esta peça em 2011, quando comecei a procurar novas linguagens para a minha escrita. A peça anterior, Eli, Eli, procurava representar um indivíduo contemporâneo caminhando sobre a sua fé, procurando-a. Magnon procura representar um homem mais antigo, procurando dar razão ao próprio medo. O tipo de escrita musical é diferente das minhas outras obras. Há três partes distintas na peça, quase como andamentos, unificados por uma estrutura de relações entre notas e uso insistente dos mesmos motivos, embora estes raramente se apresentem com a mesma roupagem. As melodias são retalhadas e os seus pedaços são atirados para as múltiplas possibilidades do colorido tímbrico. Acima das considerações técnicas, procurei manter uma constante sensação de instabilidade mais ou menos pronunciado. Assim é o medo.