Ao ler qualquer obra de Saramago (neste caso, Ensaio sobre a Cegueira) o leitor é confrontado com uma ideia que lhe é sugerida de forma cortante na primeira frase, no primeiro parágrafo ou na primeira página. Transportando-o, de forma quase violenta, para uma realidade que passa a ser sua. Seja o caso de uma cegueira epidémica, de um país onde "no dia seguinte ninguém morreu", de uma península à deriva no oceano, da procura obsessiva de um nome, de um local onde as pessoas não são mais que meras sombras - o leitor, não só, é confrontado com esta realidade paralela, como também com a realidade do autor. Filho de Maria e José, não nasceu em Belém, mas sim numa pequena povoação denominada Azinhaga - este lugar é tão ou mais importante quanto qualquer outro local em que Saramago acabou por viver, trabalhar ou morrer - mas é certo que os lugares, as raízes moldam-nos.
Esta peça embarca numa viagem tanto pelos lugares - pelo seu charme, mistério, pelas suas pessoas - mas também pelo que eles representam nas nossas vidas. Não sabemos se foi a tranquilidade de uma lagoa, o sol acariciando o cabelo da pessoa que mais amamos, os olhos de uma criança, o canto de um pássaro, ou a perda de um ente querido... Apenas sabemos que estes lugares fazem parte de nós. Mostram-nos um novo caminho para percorrer de cada vez que os visitamos. Mostram-nos a nossa vida, como se de um mapa se tratasse, aberta para o que ainda nos falta trilhar.
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Disponível no CD da Banda do Exército, "Música Portuguesa Séc. XXI": https://afinaudio.com/index.php?seo_path=cds%2Fbanda-sinf%C3%B3nica-do-ex%C3%A9rcito-m%C3%BAsica-portuguesa-s%C3%A9c-xxi.html
Registo pela Banda do Exército, disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=NdytnxQwtvw